segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Princesa Mononoke

Princesa Mononoke é um dos filmes mais aclamados do diretor Hayao Miyazaki, mais conhecido no Ocidente por A Viagem de Chihiro. Miyazaki é um dos maiores mestres da animação mundial e foi agraciado neste ano de 2014 com Oscar honorário pelo conjunto da obra. Sua nomeação foi feita por ninguém menos que John Lasseter, o homem responsável por Toy Story. Lasseter fez questão de frisar que Miyazaki é um tesouro nacional do Japão, e entre os 10 filmes japoneses mais bem avaliados de todos os tempo, 4 são de Miyazaki (filmes em geral, não apenas animações). 

O que fez de Miyazaki uma figura tão respeitada e que flui de maneira maravilhosa em Princesa Mononoke é a direção de arte, a beleza dos cenários, o detalhe do comportamento humano e o simbolismo rico e sensível presente em cada um de seus frames (todos) desenhados à mão. A história começa com o jovem príncipe Ashataki salvando sua pequena aldeia de um "Tatari Gami", um deus-javali que acaba por ferir Ashataki e lançando sobre ele uma maldição.

A história se desenrola na tentativa de encontrar os motivos do ataque e da possibilidade de se encontrar uma cura para a ferida mortal de Ashataki. Já no início do filme abundam lições de vida e humanidade. Veremos ao longo da história diversas manifestações da natureza gentil de Ashataki e como segue o conselho do oráculo de aceitar o seu destino e enfrentá-lo de forma honrada. É um personagem muito bem delineado psicologicamente e muito consistente em todo o filme.

Sua busca deve remontar ao oeste distante, de onde teria vindo o deus da maldição. Sem spoilers, Ashataki encontra um cenário em que a humanidade e a floresta não conseguem mais coexistir e estão em guerra. Espíritos e deuses da floresta tentam salvar-se e manter a floresta viva. Uma comunidade que trabalha em torno de uma fundição de ferro aparece com sua líder Lady Eboshi, que não vê condições de equilíbrio numa convivência pacífica e vive em guerra não somente com a floresta mas com humanos também. A predação em todos os sentidos é retratada nesta comunidade de trabalhadores comuns.

A princesa Mononoke, a jovem San, vive junto com uma deusa-loba da floresta e apresenta aversão pelos humanos. Não se reconhece mais como humana, é instintiva e forte e corre e veste-se como uma loba. De seu encontro com Ashataki os dois se transformarão. Fica claro na visão de Miyazaki a tentativa de mostrar esses dois lados do humano: um mais pragmático, utilitarista, egoísta e o outro mais instintivo, primitivo e conectado à Natureza e à vida como um todo. Fica evidente aqui também a preocupação comunitária, tão forte no Japão.

É uma obra-prima de animação que deve ser vista e compartilhada por sua beleza, sua visão ecológica e seu retrato complexo da relação do homem com a natureza.

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