A Piada Mortal, uma das HQs mais celebradas de todos os tempos ganhou muito com sua nova versão aqui no Brasil. Ela já está no mercado há algum tempo, não é um lançamento recente mas certamente deve ser revisitado como um classíco. Além da colorização "nova", feita por Brian Bolland, o próprio responsável por artes e capa, a Panini conseguiu entregar um produto completo, com formato e impressões originais (quem não se lembra da época em que a Editora Abril mutilava séries históricas e nos entregava caro em papel de pão... é, é exagero, mas não estava tão distante assim).
Mas o que surpreende é a narrativa da história. Ela não cai no trivial em nenhum momento, e começa com uma grande ironia: o Coringa, símbolo máximo do caos e da loucura, quer ensinar ao Batman que o que separam os ditos loucos dos sãos é um dia ruim.
Essa é a ideia básica que se desenrola e não vou aqui postar nenhum spoiler.
Há entretanto uma camada mais profunda que precisa ser destacada. A luta com a insanidade é interna e diária. Todos podemos perder a cabeça, ter experiências estranhas, pouco normais ou não explicadas; pensamentos esquisitos, pequenos rituais, tudo por mais estranho que pareça para nós ou para os outros, também é parte de nós.
A sanidade resguarda-se na capacidade de diferenciação entre a realidade e as fantasias, de conseguir domar impulsos e manter uma vida prática minima. Por mais incrível que pareça, é muito difícil definir o "normal". Pode ser simplesmente uma normalidade estatística, pode ser convencionada (a homossexualidade só deixou de ser "doença" após uma votação (!) da Associação Psiquiátrica Americana) ou uma perturbação da vida comum ou do funcionamento orgânico esperado. Quem se interessar mais pelo tema, o livro "O Normal e o Patológico" de Georges Canguilhem pode ajudar.
A Piada Mortal traz uma reflexão sobre a "loucura" de cada um de nós que não pode ser ignorada. Torná-la mais consciente é a única saída que temos...
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